Em meu percurso acadêmico explorando as narrativas folclóricas do Sudeste Asiático, me deparo frequentemente com histórias fascinantes que transcendem o mero entretenimento. Essas narrativas atuam como janelas para a cosmovisão de culturas antigas, revelando seus medos, anseios e explicações para os fenômenos naturais. Uma dessas histórias que sempre me encantou é “O Bakunawa”, um conto popular Filipino do século XV que narra a luta épica entre um dragão celestial e o deus sol, Bathala.
A história se inicia no céu, onde sete luas brilham majestosamente sobre o arquipélago Filipino. Estas luas eram consideradas dádivas divinas, representando prosperidade, fertilidade e sabedoria. Mas a paz celeste era ameaçada por Bakunawa, um dragão gigante com escamas brilhantes e olhos que brilhavam como brasas.
Bakunawa ansiava devorar as luas, acreditando ser a única maneira de satisfazer sua fome insaciável. A cada noite, o dragão se aproximava dos céus, tentando engolir as luas uma por uma. Este ato causava tremores na terra e escuridão sobre o mundo, espalhando medo entre os habitantes.
Para proteger as luas, Bathala, o deus supremo, ordenou aos seus fiéis que fizessem barulho para assustar Bakunawa. Os Filipinos, então, tocavam gongs, batia em tambores, faziam fogueiras e gritavam furiosamente. O barulho ensurdecedor afastava temporariamente o dragão, mas ele sempre retornava mais faminto e determinado.
Em um esforço final para derrotar Bakunawa, Bathala criou uma armadilha. Ele instruiu os Filipinos a pendurarem espelhos brilhantes nos seus telhados. Quando Bakunawa se aproximou das luas, viu sua própria imagem refletida nos espelhos e, confundido por sua aparência monstruosa, recuou em pânico.
A história de “O Bakunawa” é rica em simbolismo e interpretações. A luta entre o dragão e Bathala representa a constante batalha entre o bem e o mal, a luz e a escuridão. As luas simbolizam a esperança, a sabedoria e o equilíbrio no mundo natural.
Bakunawa pode ser visto como a personificação do caos e da destruição, sempre tentando engolir a luz que sustenta a vida. A estratégia de usar espelhos para repelir Bakunawa sugere a importância da inteligência e da astucia na luta contra as forças negativas.
Os Filipinos antigos acreditavam que o eclipse lunar era resultado de Bakunawa tentando devorar a lua. Para assustar o dragão, eles faziam barulho usando instrumentos musicais como gongs e tambores, acreditando que esses sons eram fortes o suficiente para repelir a criatura mítica. Essa crença demonstrava não apenas o poder do folclore na vida cotidiana dos Filipinos, mas também sua profunda conexão com o cosmos e seus ciclos naturais.
Elementos simbólicos da narrativa:
Elemento | Significado | Interpretação |
---|---|---|
Bakunawa | Dragão gigante que anseia devorar as luas | A personificação do caos, da destruição e da fome insaciável |
Luas | Sete luas brilhantes representando prosperidade, fertilidade e sabedoria | Símbolo da esperança, da luz e do equilíbrio no mundo natural |
Bathala | Deus supremo que protege as luas e cria estratégias para derrotar Bakunawa | Representa a força do bem, da ordem e da inteligência divina |
Espelhos | Objetos brilhantes usados para confundir Bakunawa | Símbolo da astúcia humana e da capacidade de usar recursos criativos para vencer adversidades |
A narrativa de “O Bakunawa” não apenas explicava os eclipses lunares para a população Filipino, mas também reforçava a importância da união e da coragem na face do perigo.
Ao contar a história de como os Filipinos se uniram para repelir o dragão celestial, a narrativa promove um senso de comunidade e identidade cultural forte.
Esses contos antigos são muito mais que simples histórias; eles são tesouros culturais que nos conectam com as gerações passadas e nos convidam a refletir sobre temas universais como o bem e o mal, a luta pela sobrevivência e a importância da colaboração.